Como dar mesada? – Dúvidas do divã

A mesada deve ser “dada” junto com a Educação Financeira. Este é o princípio fundamental. Mas não é só isso.

Significa pensar em qual tipo de adulto você quer que seus filhos se transformem. Quais ensinamentos eles precisam para se virarem na vida.


1) Enxergar os filhos adultos

Pensem bem. Quem recebe dinheiro assim do nada, em troca de nada. Talvez aqueles que nasceram em berço de ouro (e mesmo assim não é o correto). O que corresponde a uma ínfima parcela da população. Mas para a grande maioria, não recebem.

Por isso ao DAR (verbo transitivo, entregar algo a alguém, presentear, passar para alguém, conceder algo alguém) como a própria definição da palavra esclarece, estamos entregando algo a alguém SEM NADA EM TROCA.

Ora pois, nós seres mortais necessitamos de dinheiro para sobreviver (vivemos em uma sociedade capitalista consumista) e para conseguir este dinheiro (a grande maioria das pessoas) trabalha – honestamente – para tanto. Há uma troca dos seus serviços pelo dinheiro (salário, comissão, lucro, etc).

Assim se dermos uma mesada para as crianças – independentemente da sua idade – a primeira lição que estamos ensinando? O dinheiro pode cair do céu. E na hora dessa criança chegar na vida adulta vai continuar a receber assim do nada? Qual será a visão que ela terá em relação ao dinheiro? Como vai se dar esses “desmame”?

1º Lição: Pense a longo prazo em relação aos filhos.

Ensine desde já que um dia a mesada vai acabar, e dê suporte, incentivos e condições para que ao chegar esse dia os filhos tenham plena capacidade de caminhar com as próprias pernas.

Ensine empreendedorismo, ensine a perseguir seus sonhos, incentive a ter autoconhecimento e principalmente a pensar a longo prazo – isso inclui fazer uma Planejamento (de vida, de carreira e financeiro).

Estilos lesivos de lidar com o dinheiro – Não fazer planejamento nem pensar a longo prazo

Veja os artigos: “Quão longe você enxerga o dinheiro?”; “Estilos lesivos de lidar com o dinheiro – Não fazer planejamento nem pensar a longo prazo”; “Pensar a longo prazo – Perfil do Investidor”; Baixe o ebook “Planejamento Financeiro”, tem tudo explicado passo a passo;


2) Eu preciso ou eu quero

Outra questão é que a vida não é só feita de receitas, mesmo recebendo um salário, comissão ou outros tipos de ganhos, ela também é feita de despesas para sobreviver. Gastos para me manter viva. Como pagar pela comida, locomoção. Gastos como internet, saúde e moradia. São as despesas relacionadas às necessidades.

Assim só receber uma mesada e só gastar com coisas que gostamos leva a que tipo de ensinamento? Quando adultos a vida é uma beleza e gasto só com o que gosto, entretenimentos, jogos, baladas.

Veja esta matéria, explicamos a diferença entre querer e precisar.

E sabemos que a vida não é assim. Obrigações, por mais incômodo que seja, existem e não vamos viver sem elas.

2º Lição: Ensine a diferença entre necessidade x desejo.

Nossos gastos são divididos entre o que necessitamos para sobreviver e o queremos ter. A necessidade nos sustenta, os desejos nos movem para frente. E existe ainda os desperdícios que é tudo aquilo que foi literalmente para o lixo. Não trouxe nenhum benefício.

Faça o seu orçamento junto com os filhos, mostre todos os gastos que a família tem. Defina as necessidades e desejo junto com eles. E ao “dar” a mesada “dê” junto algumas contas para pagar. O pagamento do pacote de internet, assinatura de jogos ou a conta do celular vai bem com uma mesada (mas atenção: são gastos exclusivo deles)

Troca Intertemporal – uma escolha entre hoje ou amanhã

Veja o artigo Eu preciso ou eu quero? Objetivos Financeiros III e depois Você compra desejo ou necessidade É um bom começo. Vale também ver esta matéria: “A importância de ensinar a definir Prioridades – Ensinando Educação Financeira” tem muita dica do que você pode (e deve) ensinar aos filhos. Vale também ensinar o que é troca intertemporal.


3) Qual o futuro que queremos para eles.

Legal. Até agora estou aplicando esses ensinamentos. A criançada já sabe que essa mesada tem data para terminar, preciso estudar e ter uma carreira para quando chegar este dia eu me sustentar. Com a grana que recebo estou pagando meus gastos – baladas, jogos, roupas etc. Pronto.

Não! Se ficar só nisso que tipo de lição você está ensinando para o seu filho? Que para o nosso futuro basta estudar, ter carreira e viver a vida e deixar ela me levar.

Não dá. E se vier águas turbulentas? Outro ponto, como ficam os sonhos? Qual o propósito da vida? E isso independe de quão rico a pessoa é;

Por isso é fundamental pensar no nosso Destino, veja esta série sobre os objetivos. Qual Destino você quer? Objetivos Financeiros I

3ª Lição: Estimule a criançada a pensar em seus sonhos de vida e estipular os objetivos para alcança-los.

Ensinar a estipular metas, isso significa criar o habito de investir parte da mesada para atingir essas metas. Para ajudar nesta empreitada, veja o ebook Vamos Falar de 2021; O artigo “Planejamento Financeiro – Aonde você quer ir? Episódio 5” é enriquecedor. Vale também dar uma olha no post “O Planejamento Financeiro deveria ser como uma flecha.”.

Sonhos são o que nos move.

Aproveite e ensine COMO investir para não cair em armadilhas ou golpes. Enriquecer é a consequência dos propósitos. Veja este artigo onde damos vária dicas do que ensinar “Sobre Investimentos o que se deve aprender. Ensinando e aprendendo Educação Financeira”, vale também dar uma olha na série “Onde Investir o meu dinheiro – Os riscos”; sobre o comportamento do Investidor. e a leitura dos cuidados em investimentos: “Mesada para as crianças investirem”.

4) Consumista ou consumidor consciente

Outra consequência do dar mesada simplesmente assim do nada só para gastar com suas coisas é que estamos ensinando o que para eles? Que a vida é feita de consumo. A criança recebe uma mesada para gastar e pronto. Bacana, ah! Mas ensinei que é preciso ter objetivos. Importantíssimo. Mas temos que ir além.

Estes artigo vão te ajudar:

Dinheiro compra tudo? O que ele não deveria comprar!

Viver precisando de menos e ser mais feliz. Isso é possível?

4ª Lição: Ensinar a ser um consumidor consciente.

Como escolher o que comprar. O que acontece quando a opção de compra é pela marca X ou Y? Qual o tipo de cadeia produtiva, comunidade, pessoas estou incentivando. A do contrabando ou a da governança, ambientais e sociais – ESG? Do aumento das mudanças climáticas ou do reflorestamento e preservação?

Como ser um Consumidor Consciente ao fazer compras

O consumo por consumir, ou o consumo daquilo que preciso valorizando o que tenho para ter qualidade de vida, que dê valor à família por exemplo. É necessário aprender a fazer escolhas conscientes (seja de família de vida simples, vida rica, milionário – independe). Veja: “Como usar o 5R”; “Qual o sentimento do dinheiro?”; e “Dinheiro compra tudo? O que ele não deveria comprar”.


5) Os alto e baixos

Nossas vidas passam por momentos de bonança e por tempestades. E devemos desde cedo saber disso. Quanto mais precavidos formos melhores serão as condições de terminar períodos difíceis em condições melhores. E ainda aproveitar as oportunidades que crises oferecem. Se não ensinar a reservar uma parte da mesada para emergências o que estamos ensinando? A vida é uma maravilha e quando (se) acontecer agente vê o que fazer.

E sabemos bem que não é assim. Vejam a pandemia como um exemplo muito útil.

5ª Lição = Ensine a ser precavido.

Antes de começar a investir em sonhos, tenha a reserva de emergência formada. Mas qual valor. Bem, depende. Qual a garantia que os pais oferecem na manutenção da mesada? Quanto mais seguro for, menor poderá ser a reserva. Coloque todos os “se” (cenários possíveis – ex: quem vai pagar o conserto do celular se ele quebrar?) e use do bom senso.

Onde investir o meu dinheiro: A divisão

Vale dar uma olhada no artigo: Onde Investir o meu dinheiro – A divisão onde falamos sobre a reserva de emergência.


6) O orçamento como base

E juntando tudo e funcionando como base, o Orçamento Doméstico.

6ª Lição = Ensine a fazer um Orçamento Doméstico

Junte tudo isso e faça o Orçamento dele. Só para ele. Só dele. As receitas são as mesadas (e o que mais ele conseguir “arrecadar” – honestamente). As despesas são os gastos (não esqueça de incluir as “obrigações” da 2ª lição).

Mostre os modelos que podem ser baixados e veja com ele qual se adeque melhor.

Modelo para imprimir

Modelo de Planilha Excell

Modelo para Adolescentes e Jovens

Modelo para Crianças – Inclui toda uma sequência de construção de um orçamento

Veja este artigo, explicamos tudo o que se deve ensinar sobre Orçamento. Cheio de dicas: Orçamento Doméstico é um conhecimento Multidisciplinar – Ensinando e Aprendendo a Educação Financeira


7) E qual valor de mesada? Não erre a “mão”

Esta é uma questão de cada família, afinal cada um têm uma realidade diferente. A começar qual é o orçamento da família, têm dinheiro disponível para se comprometer mês a mês (não vale dar um mês e no outro não).

O valor não pode ser muito alto (para não incentivar o consumismo e vida “mole”, ou desmotivar o “evoluir”), nem muito baixo (para não inibir os sonhos ou que ela se sinta inferior).

Também vai depender do nível de maturidade (desenvolvimento cognitivo) da criança. Comece com a semanal (6-8 anos) para os menores e vá para a quinzenal conforme perceber que a criança se desenvolve e consegue administrar bem o dinheiro. Parta para a mensal (11 -13 anos) quando estiver na adolescência.

Não vale usar a mesada como moeda de troca para ir bem na escola (é obrigação dela, estudar é um bem que está sendo dado a ela para o benefício dela mesmo), muito menos como recompensa por ajudar em casa – arrumando o quarto, lavando a louça, ajudando nas tarefas da casa (também é uma obrigação, todos usam e desfrutam do ambiente, assim todos têm que contribuir para a sua manutenção – faz parte do ser um cidadão e convívio em família).

Agora por exemplo, se você coloca o carro para lavar em um lava rápido e paga por este serviço e seu filho se oferece para fazer, aí sim vale o “pagamento”, pois você esta trocando de prestador de serviço. Diferente se por conta de redução de gastos por queda de receita, ou para atingir um sonho da família, essa lavagem do carro tem que ser feita em casa como parte da nova estratégia, neste caso não vale pagar para ele lavar, é obrigação.

💡 IMPORTANTE: Mas se na sua situação financeira não há espaço para mesada, não se preocupe, nem se desanime. Existem outras inúmeras formas de ensinar Educação Financeira sem o uso da mesada. Peça que acompanhe ou até que eles mesmo façam o orçamento da família, ajudem a estipular metas, organizem a papelada. Enfim que eles participem ao máximo da gestão financeira da família. O resultado pode até ser maior porque aprenderam que vivemos em convivência e nem sempre podemos usar o nosso dinheiro como gostaríamos.

A regra para todas as atitudes perante a mesada:

O que estou ensinando o meu filho com este comportamento?

É disso que se trata a mesada. Não é para se divertir, não é para ele parar de pedir dinheiro. É acima de tudo educar para lidar com o dinheiro. É Educação Financeira.


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Como usar as brincadeiras com Educação Financeira – Ensinando e Aprendendo EF

Fontes:

Akatu – Caderno Temático dinheiro e crédito

BC – GFP – Curso Gestão de Finanças Pessoais – Capítulo 2 – Orçamento Pessoal e Familiar

CONEF – Educação financeira nas escolas: ensino médio: Bloco 1

Consumer Financial Protection Bureau’s – Your Money, Your goal – A financial empowerment toolkit for Social Services programs

CVM

FGV – Curso Como Organizar um Orçamento e Curso Como Gastar Conscientemente

Foundation Communities – Volunteer Financial Coaching – Training Manual – 2014

SANDEL, Michael. O que o dinheiro não compra. – Os limites morais do mercado. Civilização Brasileira, 2012.

Site:

Inter

Isto É Dinheiro

W1 Consutloria

André Massaro

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