Confiamos mais em nós mesmo do que em qualquer outra coisa. Quando o excesso de confiança – o maior erro dos investidores – nos causa prejuízos financeiros. Conheça mais esse viés comportamental e o que fazer para evitar.
originalmente publicado em 09 de dezembro de 2020
- Viés Excesso de Confiança
- Dicas para não cair no Excesso de Confiança
- Outros Comportamentos do Investidor
Continuamos com a nossa série sobre Comportamentos do Investidor provocados por erros de interpretação e percepções – vieses – que o nosso próprio cérebro provoca se valendo de atalhos mentais – heurísticas – para economizar tempo e ter agilidade.
Hoje vamos falar sobre quando ter confiança de mais pode ser uma “pegadinha”.

Viés Excesso de Confiança
Em investimentos a principal habilidade requerida é a capacidade de perceber para onde o mercado esta caminhando e desta forma fazer as melhores escolhas no momento certo.
As habilidades analíticas de uma forma geral são de suma importância para conseguir bons resultados na gestão de ativos no mercado financeiro.
Porém é difícil medirmos qual é a nossa capacidade de entender o mercado, qual o nível que suportamos pressão, o quanto controlamos as emoções, ter o “feeling” correto, ter tolerância ao erro, a adaptabilidade, a capacidade de tomada de decisão certeira e liderança.
Daí ser muito fácil acharmos que somos “fera”. Acertamos na escolha de alguns investimentos, tivemos sucesso em outros tantos. A rentabilidade de nossos investimentos foi acima da média. Soubemos o ponto exato para fazer a movimentação do investimento. Pessoas nos consultam pedindo sugestões de investimento (nosso ego vai a loucura – somos tudo isso?).

Soma se ainda o tempo maior como investidor que seus pares, mais experiência significa mais conhecimento –será? Lemos, nos informamos, adquirimos conhecimento. Sabemos tudo do mercado – será?
Junta tudo isso e pronto, dominamos o mercado, somo capazes, somos experts (ou não?).
Mas, infelizmente, partir para o excesso de confiança (overconfidence, em inglês) é um pulo.
Um sentimento – egoísta – em que acreditamos ser melhores do que de fato somos. Confiamos excessivamente nos nossos próprios conhecimentos, habilidades, e opiniões. Superestimamos nossas decisões e escolhas, acreditamos que estamos sempre certo. Os erros são fatores externos e não consequência de nossos atos.
O excesso de confiança é apontado como um dos maiores e danosos erros que um investidor pode cometer.
“As minhas opiniões estão corretas afinal eu “enxergo” para onde o mercado esta indo; as informações do noticiário estão incompletas porque eu conheço esta empresa X e sei que ela não é assim; meus dados estão mais correto do que do relatório do banco porque eu confio na minha base de informações; conheço a empresa Y, não preciso checar as informações. Afinal quantas e quantas vezes acertei nas decisões”. São pensamentos típicos de quem domina a situação.
E assim o caminho esta aberto para correr mais riscos. “No passado deu certo, hoje também vai dar, confio no feeling”.
O excesso de confiança em determinados meios ou situações é muito bem vindo. Quantos líderes conseguiram resultados fantásticos exatamente por confiarem no que estavam fazendo. São vistos como um sinal de força, vigor.
Mas o que é bom em certos ambientes ou situações não é em outros.

No mercado financeiro o excesso de confiança é extremamente danoso. Ele é considerado uma fraqueza. O sucesso neste mercado está em ser cauteloso, prudente.
O maior problema é que confiar de mais em si mesmo e não no que os números, os indicadores, estão dizendo leva a cometer erros. Erros no mercado financeiro são perdas. Por isso é o maior e pior erro de um investidor.
Ele leva a correr mais riscos, sermos menos precavidos. Apostar mais alto, afinal nós estamos na busca de melhores rendimentos. Não é nisso que sou bom?
Os investidores acometidos pelo excesso de confiança, por se suporem melhores do que seus pares em identificar as melhores opções de investimentos, “sabem melhor o momento certo de investir ou tirar do investimento” acabam exatamente fazendo mais negociações, o que para começar já traz um custo maior de transações minando os rendimentos.
Ou ainda acham que estão no controle da situação. Afinal enxergam para onde o mercado esta indo. Mas estão?

Existem certos tipos de Excesso de Confiança:
- Excesso de Capacidade – Over ranking
É quando a pessoa estima que o nível de sua performance, capacidade é bem mais alta do que na realidade. Em investimento leva a pessoa a tomar mais riscos – que levam a perdas.
- Ilusão de Controle
Ocorre quando a pessoa tem certeza de que esta no controle da situação quando de fato não está. No mercado financeiro significa que achamos que a situação é menos arriscada do que de fato é.

- Efeito desejável
Sobrestimamos as probabilidades de algo acontecer porque desejamos um certo resultado que acreditamos que vai acontecer. No mercado financeiro se traduz em investir em determinada aplicação acreditando – desejando que vá trazer um retorno financeiro maior do que de fato acontece.
- Otimismo temporal
Sobrestimamos o tempo em que algo vai acontecer. Em investimentos se traduz sobrestimar o tempo que um investimento leva para trazer o retorno de volta.
Ainda tem aquele excesso de confiança do mercado. Ligado principalmente às bolhas. Todo mundo sabe que tem algo errado, mas confia que o mercado vai se adequar, corrigir, a bolha nunca vai explodir. Achar que sabe o melhor momento para sair antes de estourar, ou pior, que nem bolha tem. Com no caso do Crash da Bolsa nos EUA em 1929 – A Grande Depressão ou mais recentemente a Bolha Imobiliária em 2007.

Dicas para não cair no Excesso de Confiança
E o que fazer para não se deixar influenciar pelo excesso de confiança?
- Recolha todas as informações possíveis, certifique-se que estão corretas e que tem todas as informações necessárias para decidir; Confie nos dados “crus”.
- Troque e questione seus conhecimentos com pares que não são “concorrentes”, são isentos e imparciais;
- Não se deixe iludir com o alto rendimento – lucro – de seus investimentos; Veja se o resultado não é um acaso ou realmente foi fruto de sua estratégia;
- No calculo do rendimento inclua todos os custos da transação, inclusive o seu tempo gasto. Seu tempo tem custo!
- Registre a data e os sentimentos acometidos quando alguma coisa deu errado. Estude para verificar o que pode ter influenciado no erro. Não somos invencíveis. Cometer erros é humano, não coloque os erros em fatos externos;
- Diversifique os investimentos.
- Assista a filmes que retratam diversas situações e personagens do mundo financeiro que perderam ou levaram outros a perder dinheiro pelo excesso de confiança, como por exemplo, “A grande Aposta”; “O Mago das Mentiras”; “Enron: Os mais espertos da sala”.
Para ser mais assertivo nos investimentos é muito importante se conhecer, quais são meus pontos fortes e fracos, assim evitamos os comportamentos que atrapalham nas tomadas de decisões. Veja este artigo para saber mais: “Tenha autoconhecimento e domine as finanças”.

Outros Comportamentos do Investidor
Veja os outros episódios da série
Aversão à Perda – Comportamento do Investidor I.
Lacunas da Empatia – Comportamento do Investidor III
Ancoragem – Comportamento do Investidor IV
Pensar a longo prazo – Comportamento do Investidor V

Vá mais longe:
Conheça outros vieses comportamentais, veja a série sobre os comportamentos do consumidor:
Conheça os vieses comportamentais do consumidor, um sabotador com boas intenções.
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Quando as dores ditam o que a gente compra.
Como se proteger de nós mesmos?

Fontes
CVM – Série CVM Comportamental – Vieses do Investidor – Volume 1. 2017, Comissão de Valores Mobiliários.
Ariely, Dan – Previsivelmente Irracional – Aprenda a Tomar as melhores Decisões. Editora Estrela polar. 2008
Goleman, Daniel phD. A Inteligência Emocional – A Teoria Revolucionária que redefine o que é Ser Inteligente. Objetiva. 1995
Duhigg, Charles. O poder do Hábito. Porque fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Ed. Objetiva. 2012
CVM: “Penso, Logo Invisto?” (http://pensologoinvisto.cvm.gov.br).
PUC-PR- digital: Investiu por impulso? As finanças comportamentais explicam o motivo